Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) baseados na Pnad 2012 (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) e divulgados nesta sexta-feira (29) mostram que o número de jovens
de 15 a 29 anos que não estudava nem trabalhava chegou a 9,6 milhões no país no
ano passado, isto é, uma em cada cinco pessoas da respectiva faixa etária.
O número --que representa 19,6% da população de 15 a 29
anos-- é maior do que a população do Estado de Pernambuco, que, de acordo com o
Censo 2010, era de 8,7 milhões de pessoas. Na comparação com 2002, quando 20,2%
dos jovens nessa faixa etária não estudavam e não trabalhavam, houve leve
redução: 0,6 ponto percentual.
A Pnad é uma pesquisa feita anualmente pelo IBGE, exceto nos
anos em que há Censo. No ano passado, a pesquisa foi realizada em 147 mil
domicílios, e 363 mil pessoas foram entrevistadas. Há margem de erro, mas ela
varia de acordo com o tamanho da amostra para cada dado pesquisado.
De acordo com a pesquisa "Síntese de Indicadores
Sociais", a maioria dos que formam a geração "nem-nem" (nem
estuda nem trabalha) é de mulheres: 70,3%. A incidência é maior no subgrupo
formado pelas pessoas de 25 a 29 anos, onde as mulheres representavam 76,9%.
Já entre os jovens de 15 a 17 anos, a distribuição é mais
equilibrada: 59,6% das pessoas que responderam que não estudavam nem
trabalhavam eram mulheres. No subgrupo de 18 a 24 anos, por sua vez, as
mulheres representavam 68%. Entre essas jovens, 58,4% já tinham pelo menos um
filho, e 41% declararam que não eram mães.
Considerando apenas as mulheres que já haviam dado à luz
pelo menos uma vez, o número de pessoas que não estudava nem trabalhava também
era maior no subgrupo de 25 a 29 anos (74,1%).
"A gente não tinha feito essa conta antes. (...)
Começamos a ver pelos grupos de idade, e vimos que há uma relação muito forte
entre não estar estudando e trabalhando com a questão da maternidade. Não
queremos dizer que isso é a causa", afirmou a coordenadora da pesquisa,
Ana Lúcia Saboia. "Não podemos falar da relação de causalidade, e sim de
uma relação estreita. Entre as pessoas mais pobres, o acesso à escola é menor.
Não estou dizendo que isso é a causa, mas há uma relação bastante direta."
A Síntese de Indicadores Sociais revela, no entanto, que
houve uma diminuição no índice de mulheres que não estudavam nem trabalhavam em
um período de dez anos. Em 2002, as mulheres representavam 72,3% da geração
"nem-nem" --consequentemente, houve crescimento de dois pontos
percentuais no número de homens em tal situação, no mesmo período.
As estatísticas mostram ainda que a maioria dos jovens
"nem-nem" tinha ensino médio completo (38,6%), sendo a maior parte no
subgrupo de 18 a 24 anos (43,2%). Apenas 5,6% desses jovens possuíam ensino
superior (completo ou incompleto), e 32,4% representavam aqueles que não
concluíram o ensino fundamental.
"Eu não gostaria de dizer que essas pessoas que não
estão estudando ou trabalhando são ociosas ou um bando de inúteis. É uma
situação momentânea que pode acontecer. De qualquer maneira, a gente tem que prestar
atenção", disse Ana Lúcia. "Em princípio, de 15 a 17 e de 18 a 24
anos, não dá para não estar estudante nem trabalhando. É um motivo de
preocupação."
Segundo o IBGE, enquanto 19,% dos jovens de 15 a 29 anos não
trabalham nem estudam, 45,2% somente trabalham, 13,6% trabalham e estudam e
21,6% estudam apenas.
Intercâmbio
A reportagem do UOL entrevistou dois jovens que estão
atualmente sem estudar e sem trabalhar: o carioca Danilo Sampaio, 23, e o
gaúcho João Pedro Monteiro, 21. Ambos passam por dificuldades para conseguir a
recolocação no mercado depois de terem feito viagens de intercâmbio.
Há dois anos, ainda cursando Relações Públicas na Facha
(Faculdades Integradas Hélio Alonso), Sampaio voltou de um intercâmbio nos
Estados Unidos, chegou a estagiar em sua área de atuação, mas não conseguiu se
firmar na empresa. Formado desde meados desse ano, o carioca diz estar em busca
de uma vaga.
"Procuro estudar em casa mesmo, manter-me atualizado e
aproveito a parte da noite para mandar currículos. Vejo todas as vagas que
saíram e participo de entrevistas, mas o mercado está muito restrito",
declarou.
O jovem disse aproveitar o período da manhã e da tarde para
cuidar da saúde: "Durante o dia, eu tenho feito bastante exercício. Vou à
academia, corro, enfim, tento cuidar da minha saúde".
Recentemente, Sampaio viajou para a Europa, onde, segundo
ele, teve oportunidade de treinar o inglês, algo que considera fundamental para
estar bem colocado no mercado de trabalho. Na opinião dele, as experiências
internacionais compensaram o período no qual ele não estava "nem estudando
nem trabalhando".
"No meu ponto de vista, o intercâmbio foi bem positivo.
A gente acaba convivendo com o mundo e o mercado lá fora. Na Europa e nos
Estados Unidos, eles são muito pontuais nesse sentido. Também melhorei a questão
do idioma, voltei com o inglês muito melhor. Eu larguei um estágio aqui para
fazer o intercâmbio e não me arrependi", disse.
Questionado se havia sofrido, em algum momento, pressão da
família e/ou dos amigos em razão de sua condição atual, o jovem formado em
Relações Públicas afirmou que o único "sentimento de cobrança" surge
dele próprio: "É uma pressão minha mesmo. Às vezes eu me sinto inútil e
incompetente. Mas a minha família está vendo que eu estou correndo atrás".
Já João Pedro Monteiro, que voltou há dois meses de um
intercâmbio cultural na Alemanha, contou ao UOL que, embora tenha conhecido
vários países europeus e acumulado experiência internacional, enfrenta
dificuldades para conseguir uma colocação na sua área de atuação. Seu último
emprego foi como decorador.
"Às vezes parece que aquela experiência que você
adquiriu lá fora não vale de nada. Ou você não é valorizado como deveria ser ou
as pessoas pensam que você é muito qualificado para um cargo de dois salários
mínimos", disse ele, que ficou fora durante três meses e meio.
Mesmo assim, o jovem afirmou não ter se arrependido de se
aventurar pelo Velho Continente. "São coisas que eu vou levar para o resto
da vida. Conheci diversas culturas. Isso até me ajuda a entender melhor o
Brasil", declarou.
Monteiro disse ter feito seis entrevistas desde o mês
passado, quando começou a mandar currículos. O gaúcho afirma contar com o apoio
da família, mas "saber que rola" comentários maldosos a respeito de
sua condição. "Mas ninguém falou nada até agora", disse.
"Minha mãe trabalha bastante e eu tento ajudá-la no que
eu posso. Mas às vezes eu me sinto mal, como se eu não tivesse conseguido
avançar. Eles estão vendo o meu esforço. Mas eu me preocupo que eles pensem que
eu voltei de viagem e não fiz nada da vida", completou.
"Nem-nem" por região
O Nordeste é a região na qual estava concentrada a maior
parte da geração "nem-nem": 23,9%. O Norte, por sua vez, tinha 21,9%.
As regiões Sudeste (18,1%), Centro-oeste (17,4%) e Sul (15%), respectivamente,
estavam abaixo dos 20%.
Na divisão por Estado, o Amapá aparecia no topo do ranking,
com 27,8% de jovens que não trabalham nem estudam. Já Alagoas registrava 27,4%
e Pernambuco, 26,9%. Por outro lado, Santa Catarina destacava-se positivamente
na pesquisa do IBGE, com apenas 12,7%.
Já em relação ao subgrupo de 18 a 24 anos, o panorama mais
preocupante dizia respeito aos Estados de Alagoas (35,2%) e Amapá (35%). Neste
último, o índice de pessoas que não trabalhavam nem estudavam era maior do que
o de indivíduos que só trabalhavam, só estudavam ou trabalhavam e estudavam
paralelamente.
Um estudo do do Inep (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais), com base nos dados da Pnad 2008, mostrou que, à época,
3,4 milhões de jovens brasileiros entre 18 e 24 não estudavam e tampouco
trabalhavam.
Ou seja, considerando o levantamento feito pelo IBGE no ano
passado, mais de seis milhões de jovens se juntaram ao grupo dos
"nem-nem".
Em 2008, o contingente representava 14,6% do total de 23,2
milhões de jovens da época referência da pesquisa. O estudo foi publicado no
começo de 2011 no boletim "Na Medida", disponível no site do Inep.
Fonte: UOL