10 de março de 2014

CUT: luta por igualdade entre homens e mulheres é desafio para toda sociedade

Desafios são regulamentação do trabalho doméstico, igualdade de remuneração e de oportunidades no mercado e repartição desigual entre homens e mulheres nas atividades do lar
por Rosane Silva e Vagner Freitas*
A luta das mulheres por melhores condições de vida e de trabalho, pelo direito ao voto e pela emancipação, inspirou a criação do Dia Internacional da Mulher, celebrado neste 8 de março.
 
A atuação das mulheres no processo de transformação social garantiu a ampliação do direito ao voto, a participação e a formalização no mercado de trabalho, acesso à renda, direitos e participação na vida pública. E as mulheres, que começaram brigando por trabalho decente, hoje presidem países como o Brasil de Dilma Rousseff e o Chile de Michelle Bachelet, ocupam cargos importantes em empresas e nos parlamentos mundo afora. São respeitadas.
 
A discriminação e a desigualdade entre homens e mulheres, no entanto, ainda atinge milhões de mulheres em todos os continentes. As mulheres conquistaram mais anos de estudo do que os homens, porém, a taxa de desemprego entre as mulheres é maior e a desigualdade salarial continua. Sem falar que a maioria sobrevive da economia informal. Evidentemente, as maiores vítimas são as mais pobres e as negras, com baixa escolaridade e sem muita qualificação profissional.
 
Em alguns países, dívidas históricas começam, mesmo que timidamente, a ser corrigidas, mas a reação das elites econômica e política reduz o ritmo das mudanças. Esse é o caso do Brasil, onde depois de muito debate e pressão das trabalhadoras domésticas, dos movimentos sindical e social, começou a ser corrigida uma injustiça histórica com um dos maiores grupos de trabalhadoras do País: o das domésticas. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil é o maior empregador de domésticas do mundo. São 7,2 milhões de trabalhadoras. Nesse universo, 59,6% são negras.
 
Em 2013, no governo da presidenta Dilma, a legislação trabalhista igualou os direitos das empregadas domésticas ao dos demais assalariados. 25 anos depois da promulgação da nossa Carta Magna e 126 após o fim da escravidão no Brasil, o emprego doméstico foi finalmente incorporado ao artigo 7º da Constituição Federal.
 
Agora, essas trabalhadoras têm os mesmos direitos que os demais trabalhadores. Além disso, o trabalho doméstico é considerado insalubre e perigoso, vedado a menores de 18 anos. Mas a luta não terminou. Sempre atento aos humores da elite, que reagiu negativamente, o Congresso Nacional ainda não regulamentou o Projeto de Lei do Senado (PLS) 224, de 2013, que define aspectos do emprego doméstico, como a multa do FGTS, a definição da jornada de trabalho e multa no caso de demissão.
 
Em 2014, os desafios para o governo, para o Congresso Nacional e para toda a sociedade são a regulamentação do trabalho doméstico, igualdade de remuneração e de oportunidades no mercado e a repartição desigual entre homens e mulheres nas atividades do lar.
 
A luta por igualdade entre homens e mulheres é um desafio não apenas da CUT, mas de toda a sociedade brasileira.
 
Nossa homenagem a todas as mulheres do Brasil.
 
* Rosane Silva é secretária nacional da Mulher Trabalhadora. Vagner Freitas é presidente nacional da CUT

5 de março de 2014

Parceria entre CUT e Unicamp inova na formação e qualifica dirigentes para o embate entre capital e trabalho

Curso de “Política e Sindicalismo Internacionais” forma nova turma capaz de compreender a natureza das transformações e pensar a estratégia sindical
Parceria entre CUT e Unicamp inova na formação e qualifica dirigentes para o embate entre capital e trabalho
Socializar, compartilhar e construir saberes. Após sete módulos, intensos debates, troca experiências e novos conhecimentos, chegou ao fim na semana passada a trajetória de estudos da terceira turma do curso de extensão universitária “Políticas e Sindicalismo Internacionais”.

Todo curso ocorreu nas dependências do Instituto Cajamar, histórico centro de formação político-sindical, hoje Cooperinca (Cooperativa dos Trabalhadores do Instituto Cajamar).

Voltado a dirigentes e assessores sindicais de entidades filiadas à CUT, o projeto é um convênio entre a Central e o Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Iniciaram o curso em agosto do ano passado 39 estudantes, sendo 19 mulheres e 20 homens, representantes de diferentes ramos de atividade e setores econômicos em que a CUT atua, contemplando a diversidade e a pluralidade do nosso País. Destes, 38 receberam o diploma de conclusão em solenidade realizada na última quinta-feira (27), na sede da CUT Nacional.

Na oportunidade, o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, ressaltou a importância histórica da formação da Central. Sobre o curso, assinalou que os/as dirigentes que dele participam saem mais preparados/as para enfrentar um cenário altamente complexo. As recentes e constantes transformações do capitalismo, onde o capital detém grande mobilidade e interação em vários países e em diversas formas, demanda uma organização da classe trabalhadora a nível internacional

- Dirigentes sindicais destacam papel transformador do Curso de Política e Sindicalismo Internacionais

Para o professor José Dari Krein, coordenador de pós-graduação na área social do trabalho no Instituto de Economia da Unicamp, essa relação com a academia qualifica o movimento sindical para intervir numa realidade cada vez mais complexa. “As transformações são de grande profundidade. Investir na formação sindical, em um curso como este, é fundamental para compreender melhor a natureza das transformações em curso, seja no local de trabalho, tipo de ocupação que é gerada, entender a dinâmica do capitalismo mais recente, quais as políticas econômicas que vão sendo adotadas, como é a forma que o país se insere no processo de globalização, quais são as estratégias dos grandes grupos econômicos internacionais, porque isso é a base para se pensar a estratégia sindical, as formas de organização e resistência dos trabalhadores, a forma de luta mais adequada para enfrentar esse mundo moderno”, disse.

José Celestino Lourenço, o Tino, secretário de Formação da CUT, falou sobre o protagonismo da Central na relação com os movimentos de outros países. “Durante a 102ª Conferência Internacional do Trabalho da OIT (Organização Internacional do Trabalho) - junho de 2013 - foi realizada a reunião da Comissão de Normas, onde as denúncias sobre as violações são tratadas pelas três bancadas (governos, trabalhadores e empresários). E neste espaço a CUT foi convidada a fazer a defesa dos trabalhadores dos países da África, o que reflete a nossa representatividade”, ponderou.

Já o secretário-adjunto de Formação da CUT, Admirson Medeiros, o Greg, trouxe uma mensagem deixada pelo presidente da Central, Vagner Freitas, que não pode comparecer a solenidade por estar em compromisso no Rio de Janeiro.

Na carta, Vagner destaca o poder transformador da educação. “Por isso somos a Central que mais investe em formação. Tarefa ainda maior de nos prepararmos para os embates cada vez mais ferozes entre capital e trabalho.”

Conteúdo abrangente – neste curso de extensão universitária os alunos também são protagonistas. Qualquer formalidade e/ou burocracia acadêmica é deixada de lado.

Os dirigentes tomam conhecimento de teorias da economia, da política, da história mundial, do surgimento do movimento sindical e sua evolução e as relacionam com a luta cotidiana.

Entre os expositores e responsáveis pelas aulas, passaram pelo curso o sociólogo Emir Sader, o economista e professor licenciado da Unicamp Marcio Pochmann, o diretor executivo do Cesit Anselmo Luis dos Santos, o professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp Eduardo Fagnani, o deputado federal Vicentinho (PT-SP) e dirigentes da CUT, incluindo o presidente Vagner Freitas.
 
O curso foi divido em sete módulos trabalhados durante uma semana no mês.  Cada módulo abordava uma temática, mas todos estavam interligados entre si: entender o capitalismo, sua lógica e efeitos na organização dos trabalhadores; o funcionamento da macroeconomia; a história do capitalismo durante o século XX; o desenvolvimento da América Latina e os principais problemas atuais; a economia brasileira e sua relação com o mundo do trabalho; o contexto da evolução do neoliberalismo; os instrumentos necessários para a atuação do sindicalismo internacional.

As aulas ocorriam no período da manhã e da tarde. Antes, os alunos divididos em três grupos participavam de uma monitoria para que pudessem se apropriar do conteúdo e facilitar no processo de compreensão e participação. Monitorias que eram coordenadas por Valter Palmieri Jr., economista e doutorando na área de desenvolvimento econômico no Instituto de Economia da Unicamp; Lucas Andrietta, também economista e aluno do mestrado em economia social e do trabalho no Instituto de Economia da Unicamp; e Ana Elisa, formada em ciências sociais e que recentemente concluiu seu mestrado na mesma área.

- Retomada do Instituto Cajamar fortalece a formação de novas lideranças sindicais

Após as aulas os integrantes do curso se reuniam novamente em grupos menores para discutir os temas mais relevantes do dia, um trabalho de sistematização. Ainda havia um espaço reservado para que os alunos debatessem e organizassem o trabalho de conclusão.

Durante os cinco primeiros módulos o curso foi coordenado pela economista e pedagoga social Rita Kallabis, doutoranda em economia social e do trabalho pelo Instituto de Economia da Unicamp, que por motivos pessoais precisou se afastar, sendo substituída pela companheira Marilane Teixeira, que está a concluir seu doutorado em economia social e do trabalho também na Unicamp.

Sujeitos da transformação - uma novidade nesta terceira turma foi à necessidade de apresentação de um trabalho final. Os alunos escolheram um tema e, em grupo, trabalharam durante seis módulos na construção do trabalho e de propostas para a CUT através de leituras, estudos e complementação das bibliografias.

Valter Palmieri acompanhou a realização de todos os três cursos. Em sua opinião, os grupos de trabalho foram de grande importância para que os alunos não apenas assimilassem o conhecimento da academia, mas que também fossem os sujeitos da transformação, de produção do conhecimento.
 
Novos frutos - Valter também observa um ponto em comum nos três cursos. A partir dele, vários alunos retomaram os estudos.

Caso do companheiro Admirson Medeiros, o Greg, que esteve na primeira turma e estimulado pelo projeto decidiu retornar à Universidade.

Outro exemplo vem da terceira turma. Raimunda Audinete, 55 anos, formada em filosofia, entrou no movimento sindical há apenas seis anos. Integra hoje a direção da Fittel (Federação Interestadual dos Trabalhadores de Telecomunicações), da CUT-RN e é suplente na CUT Nacional.

Em sua trajetória, destaca a importância da formação da CUT. Paralelo ao curso de Política e Sindicalismo Internacionais, Audinete iniciou uma pós-graduação em planejamento educacional e políticas públicas. “Quero contribuir com a formação da CUT no meu Estado. Inclusive, juntamente com os companheiros Eliete e Olinto (que também participaram do curso e são do RN), vamos procurar a Universidade Federal do Rio Grande do Norte para fazermos uma parceria”, relatou.

O professor Dari Krein aponta a necessidade de que todos os alunos que passaram pelo curso de Política e Sindicalismo Internacionais também tenham espaço de reflexão e atualização, “porque o conhecimento é algo permanente.”
 
Fonte: CUT